HOMEOPATIA E CARACTERÍSTICAS HOMEOPÁTICAS

HOMEOPATIA E CARACTERÍSTICAS HOMEOPÁTICAS
ROSMEIRE PAIXÃO é Homeopata Clássica Terapeuta CONAHOM 1274 email: rosmeire.homeopatias@gmail.com

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Homeopatia em Jundiaí responde: O que é medicamento homeopático?

Homeopatia em Jundiaí 
















Dra. Amarilys de Toledo Cesar

Antes de mais nada, para compreendermos o que é medicamento homeopático e como são preparados, precisamos voltar na história, ao tempo de Hahnemann. Ele não foi o - descobridor - da Homeopatia, mas podemos considerá-lo seu - pai -, a figura que realmente sistematizou o método de tratamento através da Lei da Semelhança.

Existem duas formas básicas de curar um sofrimento: combatendo-o, ou seja, através da Lei dos Contrários, e também através da Lei dos Semelhantes, quando procuramos que o organismo reaja, combatendo o mal que o aflige.

A idéia de curar através da Lei da Semelhança já existia, era anterior a Hahnemann. Ele tornou-a possível, estabelecendo um método terapêutico adequado para sua aplicação. Para isto, determinou uma técnica de preparo de medicamentos específica, propondo também sua forma de uso.

A idéia era utilizar uma substância que provocasse sintomas semelhantes aos observados no indivíduo doente. Porém, se fosse usada uma grande quantidade desta substância, o resultado seria tornar o indivíduo, já doente, ainda mais doente, e com os mesmos sintomas. Portanto, Hahnemann pensou em usar a mesma substância (Lei da Semelhança), porém em quantidade pequena, bem pequena mesmo.

Desta forma, ele começou a diluir as substâncias que tencionava utilizar. Todos nós temos porém a noção de que, se usarmos uma quantidade MUITO pequena, a ação da substância deve diminuir, e talvez até desaparecer. Quando Hahnemann começou a diminuir a quantidade, percebeu isto também. Observador atento, notou também que, AO AGITAR a solução - talvez de forma intuitiva, talvez no início apenas para bem homogeneizá-la - ela, em vez de perder sua força, pelo contrário, tornava-se mais potente, mais ativa. Apesar de conter cada vez menor quantidade da substância inicial, a solução parecia adquirir uma - força -. A este processo conjunto, de diluição e agitação, Hahnemann deu o nome de dinamização, lembrando - dynamo -, ou força. Chamamos de potência ao número de vezes que a substância foi dinamizada. Quanto mais dinamizada, maior a potência do medicamento. Do ponto de vista homeopático, dizemos que, quanto mais dinamizado (e portanto mais diluído), mais potente é o medicamento. Do ponto de vista clínico, também mais potente ele será.

Os medicamentos homeopáticos são (quase sempre) dinamizados, isto é, a substância original é diluída e agitada. Para que isto ocorra, partindo de uma substância com a qual preparemos um medicamento, temos que considerar se ela é solúvel ou não. Para afirmarmos se esta solubilidade ocorre, é importante admitirmos quais solventes podem ser utilizados: os tradicionalmente usados são a água, o álcool etílico e a glicerina. Quando a substância não for solúvel nestes solventes, precisaremos lançar mão de outra estratégia, que será a trituração.

Na dinamização, usamos uma solução hidroalcoólica para diluir (frequentemente álcool a 30%) e movimentos de - batida - contra um anteparo semi-rígido para agitação. Chamamos este processo de agitação de sucussão. Se uma substância é solúvel em água ou álcool etílico, puros ou combinados, ela será dissolvida, na proporção de 1%, e agitada 100 vezes. Em seguida, nova diluição e 100 agitações.

Já o processo de trituração será aplicado para substâncias insolúveis. Neste caso, usaremos a lactose para - diluir -. Para agitar, usaremos o movimento de triturar a substância entre o pistilo de porcelana, contra as paredes do recipiente, um gral de porcelana. A trituração é feita também na proporção de 1% da substância ativa em lactose. Divide-se a lactose em 3 porções. Toma-se cada uma destas porções, coloca-se no gral de porcelana e tritura durante 6 minutos. Como a mistura da lactose com a substância fica fortemente aderida nas paredes do gral, é necessário raspar, com uma espátula também de porcelana, as paredes do gral, fazendo com que a lactose possa ser novamente triturada, por mais 6 minutos, e novamente raspada. Adiciona-se o segundo terço da lactose, repete-se o procedimento. Adiciona-se o terceiro terço da lactose e repete-se, pela última vez. Assim, depois de 1 hora, obtemos a primeira trituração – centesimal – da substância. Fazendo isto mais uma vez (mais uma hora) e ainda outra vez (uma terceira hora), chegamos à terceira trituração centesimal da substância, que pode ser solubilizada em solução hidroalcoólica. A dinamização continuará então conforme já descrito acima, através da diluição e da agitação.

Quando partimos de um vegetal ou animal, podemos triturá-lo, porém usualmente preparamos uma tintura, isto é, uma extração alcoólica da substância. Como esta tintura será diluída e dará origem às dinamizações (seus - filhotes -), ela é chamada de tintura-mãe. A tintura-mãe é feita colocando-se a substância em contato com solução alcoólica de graduação adequada para que os princípios ativos da planta sejam retirados, passando para a solução. É o mesmo princípio das populares - garrafadas -. Chama-se - tintura - porque extrai também princípios ativos coloridos, formando um líquido colorido. As tinturas são usadas de forma pura, porém para Homeopatia, são diluídas em soluções hidroalcoólicas e agitadas, isto é, dinamizadas.

As diluições podem ser feitas em diferentes proporções ou escalas. A mais comum é na proporção de 1:100, também chamada escala centesimal. Para fazê-la, usamos 1 parte da droga para 99 partes de solução água/álcool. É a mais comum entre nós e foi preconizada por Hahnemann. O médico alemão Hering, introduziu a escala decimal, preparada na proporção de 1:10, isto é, 1 parte da substância medicinal para 9 partes de solução hidroalcoólica.

Este método é chamado de hahnemanniano, também chamado de - frascos separados -. As agitações podem ser feitas manualmente (através de movimentos ritmados do antebraço, de batida contra o anteparo) ou através de um equipamento chamado de - braço mecânico -, quando uma máquina tenta reproduzir o movimento do braço. É uma técnica simples, porém, demorada e trabalhosa. Os medicamentos assim produzidos são chamado de CH, porque foram diluídos através da escala centesimal (por isto C) e método hahnemanniano (H).

Quando se pergunta até que potência uma substância pode ser dinamizada através do método hahnemanniano, a resposta é... depende. Depende do tempo disponível, do número de funcionários, da proposta de trabalho da farmácia. Alguns farmacêuticos propõem-se a dinamizar até a 30CH, outros chegam à 200CH, outros sobem alguns medicamentos até a 1000CH ou mesmo seguem além.

Para obter potências superiores, existem outras possibilidades. Há muitos anos, o russo Korsakov imaginou um método mais prático, menos trabalhoso para dinamizar. Propôs que se diluísse a substância, sucussionasse e depois disso, vertesse o conteúdo do frasco aberto, deixando que escorra todo o conteúdo. Desta maneira, resta no frasco 1% da dinamização anterior. Depois disso, novamente enchemos o frasco, sucussionamos e esvaziamos. Fazemos isto sucessivamente, até a potência K desejada.

Existe ainda outro método mecânico para preparo de altas potências, que é o fluxo contínuo. Trata-se de um equipamento mecânico, composto de uma câmara de vidro, onde ocorre a dinamização. Aí é colocada a dinamização 30CH da substância a ser dinamizada. Nesta câmara há entrada de água (o diluente) de modo contínuo, e também um orifício para saída da água. Uma haste de vidro, com uma pá na extremidade, gira em torno de si mesma, produzindo a agitação. Ligamos a agitação (isto é, ligamos o motor) ao mesmo tempo que abrimos a entrada de água. Desta maneira, a diluição e a agitação iniciam-se ao mesmo tempo. Diferente do processo hahnemanniano, agora a diluição é contínua, e daí o próprio nome do processo, fluxo contínuo.

A água destilada vai diluir a substância, que é colocada já na potência 30CH. O motor possue um eixo, que gira, provocando um movimento. Esta agitação, mais a entrada de água, vão provocar uma dinamização. Conhecendo a rotação do motor e o volume de água que passa pelo sistema, podemos calcular o tempo necessário para obter altas dinamizações, de forma mecânica, mais fácil e rápido do que o sistema manual.

No final de sua vida, Hahnemann propôs ainda um método diferente para preparo de medicamentos homeopáticos: a cinquenta-milesimal (LM). Este método também apresenta uma nova escala de diluição, que é de no mínimo 1:50.000 a cada passagem. Iniciamos triturando sempre todas as substâncias, durante 3 horas. Em seguida é preparada uma solução com 0,06g da 3ª trituração e 500 gotas de uma solução preparada com 400 gotas de água e 100 gotas de álcool. Tiramos 1 gota desta solução e adicionamos 100 gotas de álcool. Fazemos 100 fortes sucussões e com esta solução (chamada LM1) vamos impregnar pequenos glóbulos (microglóbulos cuja uma centena pesam 0,06g). Para prosseguir, tomamos 1 desses microglóbulos, dissolvemos com 1 gota de água, adicionamos 100 gotas de álcool e novamente fazemos 100 fortes sucussões, obtendo a LM2. Continuamos desta maneira as potências LM seguintes.

Para Hahnemann, este método causaria menos agravações nos pacientes, possibilitando uma cura rápida, suave e duradoura.

É importante notar que uma dinamização CH não é igual a uma K e tampouco a uma FC ou a uma LM, e nem existe equivalência entre elas. Apesar de atribuirmos o mesmo valor numérico, trata-se de métodos diferentes, que produzirão diferentes medicamentos. Então, uma Belladonna 200CH é diferente de uma Belladonna 200FC e também diferente de uma Belladonna 200K. Por isto, é importante citarmos sempre um medicamento com seu nome completo, isto é, o nome da substância, sua potência e o método de obtenção. Veja os exemplos abaixo:

Nux vomica 30CH é dinamizado através de método hahnemanniano, em escala centesimal, até a 30ª potência.

Lachesis 200K é dinamizado através de método korsakoviano, até a 200ª potência.

Graphites 1000FC é dinamizado através de método fluxo contínuo, até a milésima potência.

Agora vamos falar de onde vem as substâncias utilizadas para preparar medicamentos homeopáticos. Nos exemplos acima temos a Nux vomica, que é uma planta. Neste caso, é importante utilizarmos a planta perfeitamente identificada, além da parte correta, coletada na época adequada do ano, do dia, da fase de crescimento da planta, tudo que for importante e estiver descrito na literatura farmacêutica. Aliás, é sempre bom lembrar que esta descrição deve ser exatamente aquela da substância utilizada na patogenesia, isto é, quando os sintomas foram obtidos na experimentação da droga com indivíduos saudáveis.

Sabemos então que vegetais podem originar medicamentos homeopáticos. Aliás, a maior parte deles provém mesmo do reino vegetal, cerca de 70%. Talvez por isto, frequentemente a Homeopatia é confundida com chás e extratos vegetais. Na verdade, eles são parte da Fitoterapia, que é a terapêutica através dos vegetais. A Homeopatia utiliza vegetais, porém quase sempre transformados através da dinamização. É até possível utilizar extratos e tinturas vegetais de acordo com a Lei da Semelhança, mas é uma exceção na terapêutica homeopática.

Voltando aos exemplos anteriores, percebemos que os medicamentos homeopáticos também podem ser obtidos a partir de animais, como secreções, venenos (Lachesis), animais inteiros (Coccus cacti - conferir) ou de suas partes (ver exemplo). Nos casos citados são utilizados animais saudáveis, porém às vezes é uma secreção patológica que importa (Psorinum, por exemplo, é preparado através da secreção da sarna).

Ainda fazemos medicamentos a partir de minerais, como o Ferro (Ferrum metallicum), o grafite (Graphites), cristais (Silica) ou Enxôfre (Sulphur). Podemos fazer tinturas-mãe de vegetais e de animais, porém não dos minerais. Uma parte pode ser solubilizada (como Cloreto de Sódio, que chamamos de Natrum muriaticum), porém diversos minerais são insolúveis, e para eles lançamos mão da trituração, já descrita acima.

Outro ponto a ser realçado é o nome que os homeopatas utilizam: Natrum muriaticum em vez de Cloreto de Sódio, por exemplo. É que são os nomes latinos dos sais químicos e dos minerais, assim como os nomes científicos dos vegetais e dos animais. Algumas vezes estes nomes são modificados pelos especialistas, porém são mantidos tradicionalmente, e por isto o mais correto é dizer que utilizamos nomes homeopáticos, em vez de nomes científicos.

Uma vez obtida a dinamização desejada, feita a partir de determinada substância, em dado método, escala e potência, é agora necessário adicioná-la a um veículo adequado para ser administrado. Surgem então as formas farmacêuticas utilizadas para medicamentos homeopáticos.

A mais comum são os glóbulos, que são pequenas esferas brancas, feitas de sacarose. As farmácias homeopáticas compram glóbulos neutros, inertes, e colocam determinada % da dinamização desejada sobre eles. Esta % depende da literatura seguida, e varia de 1 a 10%.

Em seguida, aparece a forma líquida, administrada em gotas ou em colheradas (doses repetidas) ou como dose única. O veículo varia entre água destilada (cuja validade é pequena, de até 48 horas) até solução hidroalcoólica em variados teores, principalmente por volta de 30% para gotas.

Existem ainda prescrições em comprimidos (feitos em máquinas de comprimir, normalmente pela ind, em pastilhas ou tabletes, em pó (que pode ser acondicionado em papéis ou em cápsulas).

Como você puderam ter uma idéia, a técnica de preparo do medicamento homeopático é simples, ainda que exija paciência, dedicação e perseverança. Em nosso país os medicamentos são dinamizados em farmácias homeopáticas, que contam com a presença do farmacêutico homeopata. Este profissional, além de atender aos clientes, prepara os medicamentos prescritos por clínicos homeopatas: médicos, dentistas e veterinários.

Tendo uma oportunidade, não deixe de conhecer uma farmácia homeopática. Você verá um estabelecimento farmacêutico diferente de uma farmácia comum, dedicado ao atendimento da população.

Autora da matéria: Dra. Amarilys de Toledo Cesar.


Graduada em Farmácia e Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP, 1979), mestrado em Nutrição em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP, 1990) e doutorado em Saúde Pública (FSP-USP, 1999). É especialista em Saúde Pública (FSP-USP, 1982) e em Homeopatia pela Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas (ABFH). Foi Secretária de Farmácia da Liga Médica Homeopática Internacional até de 1995 até 2010. Desde 1993 é parte da diretoria e/ou membro da Comissão Científica da ABFH, sendo presidente da ABFH desde 2013. É membro da Comissão de Homeopatia do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo) e do GT de Homeopatia do CFF, Conselho Federal de Farmácia. Ministra a disciplina de Homeopatia na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP desde 2013. Participa dos congressos nacionais e internacionais na área de Homeopatia e Farmácia Homeopática há mais de 20 anos. É sócia-gerente e farmacêutica responsável da HN Homeopatia e Naturais Ltda e responsável pela área técnica das farmácias homeopáticas HNCristiano. Tem experiência na área de Farmácia Homeopática, atuando principalmente nos seguintes temas: homeopatia, medicamento homeopático, farmacotécnica homeopática e farmácia homeopática.
Informações coletadas do Lattes em 03/02/2020